quinta-feira, 26 de março de 2009

Porta Fechada

A porta estava fechada.

Miraste-a... Sabias que me pertencia, e isso proporcionou-te uma enorme vontade de a transpor. Mas não tinha chave. Descortinaste-a e tentaste abri-la. Não era uma tarefa fácil, mas era exequível. Entraste sem pedir licença, sem anunciar a tua tão pouco desejada chegada. Sem um pingo de vergonha, conheceste os cantos à casa. Puseste-te tão à-vontade que ninguém diria que este sítio não te pertencia. Vagueaste dentro daquelas quatro paredes, e esperaste que eu desse pela tua presença... Não foi preciso muito, apenas te limitaste a cruzar o teu olhar com o meu, e logo aí começou um jogo de contradições: intrigaste-me e assustaste-me, mas também me atraíste e fascinaste. Um dilema que desde logo me atormentou...

Não percebi as tuas intenções, o que pretendias de mim para invadir de forma tão ousada o meu espaço. Lutei para te por lá fora. Fiz de tudo para que percebesses que não eras bem-vindo, independentemente da razão que ali te levava. Mas segredaste-me ao ouvido coisas que queria ouvir, coisas que me fizeram começar a gostar da tua presença e me fizeram sentir mulher, e não uma menina inocente. Mas continuava sem perceber a tua verdadeira intenção. E quando quis aproximar-me ainda mais, viraste costas e saíste... Saíste, quando tudo o que eu queria era que ficasses mais um pouco. Tudo o que queria era que te sentasses a meu lado, me abraçasses, me beijasses, e me dissesses que estavas ali por mim, para mim. Somos diferentes, mas quem não o é? Quem me dera ter-te dito isto quando ainda o podia fazer, quando ainda o conseguia fazer...

Ainda não percebi o que te levou às minhas quatro paredes. Ainda não percebi por que desde logo me cativaste e me fizeste sentir desejada. Ainda não entendi por que entraste sorrateiramente para sair logo de seguida.

A porta estava fechada. Mal fechada, por sinal!!!

1 comentário:

Ana Margarida Cinza disse...

entre portas e janelas, entre trancas estragadas, chaves perdidas, estores corridos..há sempre um olhar, um suspiro, um assaltante das nossas quatro paredes, quando menos queremos..quando menos esperamos...E que, depois de nos acicatarem todos os sentidos, saiem..ou ficam...saiem quando têm de ficar, ficam quando o que mais queremos é que saiam..só de quando em vez, acertam..ficam quando tem de ficar, saiem quando tem de sair...

Adorei, uma vez mais, ler-te :)

beijo enorme, minha querida*