segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Palhaços...

Triste. Um palhaço triste.

Imagem confusa, que põe em causa a definição de palhaço que conhecemos. Pensamos sempre em alguém feliz, de bem com a vida, e que transmita uma alegria imensa a quem o observa. Não, talvez não...

Por dentro, o palhaço pode estar triste, amargurado, desfeito. Mas não o pode demonstrar. Não pode fraquejar nem desiludir o seu público. Tem de ser forte, de conseguir, nem que seja apenas por algumas horas, mostrar que está tudo bem, que os infortúnios não lhe batem à porta. Tem de dizer a quem o escuta que a tristeza não pode ter lugar cativo no seu dia-a-dia. Mas e a ele? Alguém lhe diz que tudo vai correr bem? Não, talvez não...

Já tantas vezes se repreendeu por ser demasiado racional e optimista perante os outros, mas a dificuldade em exteriorizar os seus sentimentos (e não os da imagem que faz transparecer) falou sempre mais alto. Embora imprima sempre algo de si durante o espectáculo, a realidade que mais o perturba é escondida, é retirada do guião. Esta fachada, esta forma de lidar com os problemas, não é necessariamente a ideal, mas é a realidade que ele conhece; a realidade em que ele quer acreditar para não se magoar. Nega a si próprio a felicidade por inteiro com medo do sofrimento, da desilusão. Faz sempre o contrário do que acredita e costuma aconselhar, do que sabe que tem de fazer; mal tira a maquilhagem, quando já despiu a alegria e a euforia, volta a ser a pessoa, o homem comum, o errante, e como tal tem de lidar com os seus fantasmas e preocupações, muitas vezes sozinho, quase sempre sem sucesso...

Ah… Mas isso é tão humano... Quantos de nós já dissemos: esquece isso, segue em frente, luta por aquilo, faz o que está certo. Mas quando nos toca a nós, bem, isso já é outra coisa! Fazemos quase sempre o que dizemos aos outros para não fazerem, muitas vezes nem fazemos nada! Mas é sempre tão mais fácil falar... No fundo somos todos meio palhaços...

Não perco tempo com lamechices e raramente me permito chorar uma dor. Não dou muita confiança à tristeza, para que ela não se instale, mas não vejo isso como uma qualidade... MLG

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